Os impérios ibéricos continham em sua
expansão uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-mercantil
associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por essa razão,
dezenas de religiosos acompanhavam as expedições a fim de converter os
gentios.
Como consequência da Contrarreforma,
chegam, em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de
catequizar os índios e de instalar o ensino público no país, fundaram os
primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade
intelectual existente na colônia.
Do ponto de vista estético, os
jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do
Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro
de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram
documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos
trabalhos.
O instrumento mais utilizado para
atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes
dos brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro.
Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a
como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores das
peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores.
Os principais jesuítas
responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da
Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.
José de Anchieta (1534 - 1597)
Nascido em 1534 na ilha de tenerife, Canárias, o padre da Companhia de Jesus veio
para o Brasil em 1553 e fundou, no ano seguinte, um colégio na região
da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade de Anchieta,
litoral do Espírito Santo, em 1597.
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Conhecido como o grande piahy
("supremo pajé branco"), Anchieta deixou como legado a primeira
gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua
dos nativos (Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil). Destacou-se também por suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço,
escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três
línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que
preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou
conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes
da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu
ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição,
pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do
padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro
anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também
merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade
catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade
de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do
Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do
poema:
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
|
Virginal cabeça,
Pela fé cortada, Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.
Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra |
Esse poema fala do confronto entre o
bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o
diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara,
as ideias são facilmente compreensíveis e o ritmo faz com que os versos
tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a
sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.
RESUMO
A Literatura do Brasil : século XVI
LITERATURA INFORMATIVA
- Sobre o Brasil, para os europeus;
- Cartas, realatórios, documentos, mapas;
- Carta de Pero Vaz.
- Cartas, realatórios, documentos, mapas;
- Carta de Pero Vaz.
LITERATURA JESUÍTICA
- Informativa em geral;
- Padre Anchieta, seu teatro e poesia.
- Padre Anchieta, seu teatro e poesia.
TEATRO DE ANCHIETA
- Mistura de elementos europeus com a realidade;
- Indígena.
- Indígena.
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